A DAMA DO MESSIAS

 

Entre o que Michele Bolsonaro diz sobre o seu marido, Jair Messias Bolsonaro – ora presidente do Brasil – e o que ele fala, sua atuação como político e como se mostra publicamente – há um abismo. É que são duas coisas tão diferentes que elas não se unem como a água e o óleo.

O antagonismo entre essas duas retóricas me irritou desde o início, raiva mesmo, até ficar indignada quando vi a Michele – na sua primeira entrevista logo após a vitória dele nas eleições – negando o que o Brasil todo já conhecia: não só o discurso racista e homofóbico de Jair Bolsonaro, como também seu potencial de agressividade quando se enfrentou, por exemplo, com a deputada Maria do Rosário frente às câmaras. É claro que ela não podia estar contra o marido já eleito, mas não pude crer que estivesse de acordo com a sua falta de compostura, disparates agressivos e desrespeito, sobretudo às mulheres, apesar de os vídeos de direita dizerem que o casal vivia em clima de harmonia e compreensão, como num deles, no qual Bolsonaro falava num comício enquanto Michele, a uma discreta distância, alisava suas costas – uma medida de controle para acalmá-lo, apaziguá-lo e freá-lo se possível.

Foi daí que comecei a entender o casal: ele precisava dela, e sua função como esposa era a de protegê-lo como um anjo da guarda, pois ela conhece seu gênio impulsivo, seu potencial agressivo, e mesmo assim sabe exercer um poder sobre ele – o que a faz forte – deixando sobressair uma bondade imensurável, um coração devoto e uma disciplina bíblica, ingredientes essenciais para se complementarem numa união duradoura.

Michele Bolsonaro sabe o que quer e do que precisa. Se Jair Bolsonaro não fosse bom e generoso, ela não estaria com ele, pelo menos é o que deixa claro quando o cobre de qualidades positivas, banindo dele o racismo, a misoginia, e a homofobia. Não. Ele não é assim como o acusam, só os que convivem com ele sabem que ele tem „um brilho no olhar diferenciado“. O cara, como ela o denomina, „é humano, um cara que se preocupa com as pessoas“ – são suas palavras. Por outro lado sabemos que sua preocupação e generosidade é intencionada e de ordem nepotista – o artigo „A „parentaia“ empregatícia dos Bolsonaro“, do jornalista Fernando Brito do Tijolaço, diz que são 102 o número de empregos dados a familiares pelos Bolsonaros, não importando se esses postos foram ocupados ou não. Contudo para Michele „ele é um homem ético, um homem brilhante que com tantos anos no Congresso não negociou seus valores“. Não é possível que Michele seja uma ingênua pura a ponto de não se dar conta do que passa ao seu redor. É que a sua defesa é blindar-se: „Eu me blindo para não sofrer porque eu sei que ele não é o que as pessoas falam.“, ao ver que ele é falsamente tachado e mal interpretado. Mas ela também se blinda quando é ele quem vai além do pudor, é indiferente ao sofrimento dos demais, carece de empatia. Blindar-se é o seu mecanismo de defesa, uma forma de renuir a realidade, escapar dos fatos para poder não deixar sucumbir o mito do Jair Messias Bolsonaro.

Defender também é proteger, e esta é a função dos anjos da guarda do Senhor, mas também de mulheres obstinadas que aferradas ao papel absoluto de esposas, têm vocação para salvar seus homens, dar-lhes créditos e viver da idéia de que vão poder mudá-los; são mulheres que tomam para si a responsabilidade da existência da relação, e até há aquelas que buscam seus maridos em lugares impossíveis de convivência matrimonial – as prisões, por exemplo – o importante e seguro, porém, é o fato de crerem na humanidade deles e poder salvá-los – no fundo também são missionárias.

Para mim esse cara, ao qual Michele se refere, é mesmo diferenciado e tem um olhar frio, pesado e calculista. – Mas a Michele não o vê como eu o vejo, pois ele não é o meu amor. Ele é o seu amor, é aquele que lhe deu um emprego como secretária dele e bem aumentou seu salário; a esposou, deu-lhe uma filha e formou uma família com ela. Seu estado civil antes das núpcias com Jair Bolsonaro vacila na mídia: às vezes o pai da sua primeira filha foi seu ex-marido, outras foi só o seu primeiro relacionamento – o que para mim não tem importância se isso ou aquilo – só me irrita o tratamento moral dado ao fato. Também não se sabe muito sobre a Michele de Paula Firmo Reinaldo; ela mesma não fala como foi a sua vida em Ceilândia, cidade satélite de Brasília onde se criou e que tanto a ama, mas sem fazer referências e descrições, sem contar acontecimentos que lhe marcaram, a não ser os que tenham que ver com a sua vida religiosa. A revista Veja foi a Ceilândia e estampou fatos desconhecidos sobre sua família, a denunciou tanto de negligenciar sua avó materna de 79 anos e de muletas – ainda recebendo a cesta básica de alimentos – como o seu afastamento dos parentes mais próximos. O Correio Braziliense, mais condescendente, entrevistou a mãe, a avó e a tia de Michele; mostrou a rua e o lugar onde era a casa que ela cresceu, a vizinhança, a estrutura urbana local e contou sem detalhes a história da família de origem nordestina, do Ceará por parte do pai, e mineira do lado da mãe, que se mudaram para a recém-construída Brasília como tantos outros. Parece que Michele Bolsonaro encobre fatos de sua vida; é verdade mesmo que seus parentes devem evitar contato com a imprensa? Onde mesmo ela nasceu, também não está claro. Michele disse numa entrevista para o Sempre Feliz que nasceu na capital do país; a Wikipedia diz que foi nascida e criada em Ceilândia, que fica a 26 km de Brasília. Para uma moça com apenas o ensino médio, filha de um motorista de ônibus e que cresceu num lugar carente, desprovido de conforto e de estruturas satisfatórias a uma menina que já queria transcender ao seu ambiente e ter chegado além disso ao ser a primeira da dama do país, não é para mim uma obra de Deus ou uma casualidade, mas sim um esforço para vencer suas condições sociais. Desde cedo ela entrou para trabalhar passando por diversos empregos – em supermercado, em festas infantis, como promotora de alimentos – mas como ter chegado a ser secretária de parlamentares, também não está claro.

Como eu gostaria de ver uma Michele Bolsonaro aberta, fiel e testemunha da classe social de suas origens! Michele Obama deixou que escrevessem sua biografia, deixando claro as origens humildes de sua família em Chicago, o trabalho de seu pai como funcionário responsável pela limpeza de banheiros públicos da cidade – tudo isso sem vergonha, mas com orgulho de sua história, de seus antepassados.
Por que só posso associar à primeira dama seu histórico religioso? É que Michele Bolsonaro, a meu ver, é mais uma missionária do que uma ativista, segundo a Wikipedia. E com esta habilidade ela quer „fazer a diferença“ como primeira dama do país. Sua retórica é evangélica, e ela sem vacilar torna isso um instrumento político poderoso em favor do seu „amado marido“. Não acho que Michele tenha necessidade de glória como o Bolsonaro – apesar de se apresentar em público melhor do que ele – e se a tem, deve ser a do reino de Deus; seu discurso é repetido de palavras que reforçam sua fé: Deus, Senhor, Amém … marcadoras do seu intuito caritativo – é que Michele quer ajudar os necessitados brasileiros, fazer obras caritativas como um trabalho social „diferenciado“, tiradas do desejo, do amor do seu coração, da sua „sensibilidade que vem de Deus“, da bondade que Deus lhe deu. Palavras bonitas e confortadoras, porém mais aliadas a ter pena dos outros do que a um trabalho de conscientização e iniciativa própria. Contudo a bondade também pode ser calculista, e assim faziam e ainda fazem as missões. Os missionários trabalham com sentimentos de culpa e apresentam ao mesmo tempo condições de vida superiores – trabalham para juntar ovelhas que trabalhem para eles.

Os projetos da primeira dama estão só dirigidos aos surdos, deficientes e portadores de doenças raras? Não ficam outros carentes de certa forma excluídos, uma vez que seu lema é incluir? Parece-me que há uma preponderância no uso de libras em detrimento de outras coisas também importantes; é que o Brasil só precisa de libras? Onde está Michele Bolsonaro num jardim ou numa horta plantando tomates com crianças pobres da escola? Onde está ela incentivando a leitura nas escolas? Ela lê além da bíblia? Que diz sobre o feminicídio? E o estupro de crianças e mulheres? Tudo isso, e mais, só encontra respostas no livro sagrado?

Uma amiga me perguntou o que eu diria a Michele Bolsonaro, se estivesse em sua presença. Respondi-lhe que lhe perguntaria se ela realmente é feliz com seu marido e por que persiste em apresentá-lo como bom e honesto, se suas atitudes mostram o contrário, pois uma coisa é ela se esforçar para que os brasileiros acreditem que o Jair Bolsonaro é bom e humano, outra coisa é que o mundo acredite nisso.

A coisa ruim

 

Citando a expressão de “o coisa ruim” de Mauro Luís Iasi no seu último post para o Blog da Boitempo – “Eleições 2018: a armadilha do voto útil e o desafio da esquerda” – também vou me referir aqui ao Jair Bolsonaro de “coisa ruim”, mas vou optar pelo gênero mesmo de “coisa”, ou seja, feminino. Então: a coisa ruim. Isto também me faz lembrar minha antepenúltima postagem aqui no blog: “Que coisa é essa, Clarice?” onde a palavra “coisa” assume duas dimensões ao Clarice Lispector analisar a morte de um bandido no seu conto Mineirinho. Mineirinho, um criminoso, um fora da lei, foi assassinado com treze tiros, sem que isso tenha deixado Clarice em paz, ao contrário, ela se encheu de revolta e de dor pela morte bárbara do bandido; os tiros a perseguiram na lembrança como uma via crúcis, relacionando cada um a uma reação sua. É que existe uma coisa em nós tão intensa como o radium e ao mesmo tempo tão fugaz que para nos salvarmos dela é melhor evitá-la, pois essa coisa nos faz sentir compaixão pelo outro, nos dá capacidade para aceitar e amar o outro. Entretanto essa coisa, como o radium, se irradiará de qualquer forma: se não for pela confiança, pela esperança e pelo amor, então miseravelmente pela doente coragem de destruição. É o lado mau da coisa, é “a coisa ruim”.

Não queria escrever sobre a coisa ruim; muito já se escreveu sobre ela a favor ou contra; a mídia está cheia de vídeos de seus discursos, entrevistas e ataques agressivos a mulheres, claro, embora ele, a coisa ruim, tenha dito a uma entrevistadora de um programa de televisão, que não brigava com mulher. Ele a deixou desconcertada, pois sem dúvida sabia ela que ele estava mentindo – mas tudo ficou por isso mesmo, sem que ela tivesse dito algo para contradizê-lo, confrontando-o com a sua própria falsidade – e eu para me preparar para este post também tive de ler artigos e ver vídeos ouvindo sua voz gasguita, rasgada como se ele estivesse num desembestado bate-boca sem nível num botequim ou numa esquina. Tive dores de cabeça ao ponto de não poder mais ouvi-lo, seu tom de voz ficou sendo extremamente negativo para mim. Homens que não sabem dialogar usam de autoritarismo e agressões para poder ter a situação sob controle, pelo medo que estas ações provocam nas pessoas – todos sabemos disso – e a coisa ruim é o retrato perfeito destas características, também por ser um especialista em murar o seu interlocutor em caso de se sentir ameaçado por ele a sair de seu papel; e ele o faz muito bem falando mais alto, não querendo ouvir e sobretudo deformando o tema das perguntas. É molesto ter que ouvir as mesmas coisas repetidas vezes como se viessem de um velho disco emperrado e em volume alto – é o macho em plena ação, é o dogmático incapaz de adaptar-se à convicção da realidade, ou seja, ele não capta a realidade como ela é, mas como ele a vê distorcida pelas suas convicções machista e autoritária. Por que é fácil para a coisa ruim propagar suas idéias adaptando as pessoas às convicções que ele tem da realidade? Porque já existia de antemão um terreno propício para isso, por isso a coisa ruim não é nenhum fenômeno político surgido assim de repente. Não. Mas bem resultado de um velho processo já existente que não permite uma esquerda no país – e isto também não é nada novo, apesar de existirem exemplos suficientes que nos mostram que um sistema dogmático-autoritário não tem chance de funcionar para sempre; algum dia esse sistema se perderá em suas próprias contradições porque a realidade é mais forte do que aquilo que ele tanto apregoou como verdade – é quando o povo crédulo e seguidor se cansa decepcionado de tantas mentiras.

Por que se deu a ele, a coisa ruim, tanto espaço? A mídia também precisou dele para aumentar suas cotas enquanto o quis transformar numa estrela, num fenômeno construído; foram poucos os que o fizeram calar, e ao meu ver a maioria o tratou de luvas e permitiu que ele fosse além dos limites do bom senso. Durante uma entrevista no programa da Mariana Godoy ele chegou a comparar a então presidente Dilma Rousseff com uma cafetina, e por meio de uma tolerância absurda, que só o levou a seguir atacando pessoas descaradamente, não foi expulso do programa – argumentos fortes em nome do respeito à presidente e ao público foram calados; a entrevistadora se bastou com um gesto de como querer tapar os ouvidos.

Sei que além da mídia mainstream há profissionais que tentam fazer um bom trabalho, trazendo à luz a verdade dos fatos e comprometendo-se com a moral; também sei o quanto tantos jornalistas trabalham submetidos a seus empregadores e seguindo suas linhas, não importando se estas sejam sérias ou não; e ainda sei das dificuldades do jornalismo independente para sobreviver – este é o modo de fazer jornalismo que eu mais respeito – no entanto ao seguir observando o andamento de várias entrevistas que fizeram à coisa ruim, dei-me conta de certas parcialidades . A minha crítica não é pessoalmente aos entrevistadores como responsáveis absolutos daquilo que deixou tanto a desejar; entendo que o que faltou nas entrevistas e que não fez com que elas ganhassem em qualidade e elevado nível foi a inexperiência, a insuficiência de parâmetros adequados que fizessem a coisa ruim se dobrar, em vez de dar-lhe asas para ainda mais sustentar suas idéias. No Roda Viva assisti à boa fé da equipe que o entrevistou, contudo me aborreci com o seu silêncio demorado e sem ter falado mais alto para sobressair-se, interrompendo-o e corrigindo-o quando preciso; pelo contrário, a coisa ruim foi quem interrompeu perguntas, e de forma contraproducente até fez uma pergunta fechada – exigindo sim ou não na resposta – a Maria Cristina Fernandes, do Valor Econômico: se o Tancredo Neves foi eleito de forma democrática. Ela, em vez de barrá-lo devidamente – por regra aqui somos nós quem faz as perguntas – ainda o respondeu timidamente. Por que a coisa ruim conseguiu dominar aqueles que o entrevistaram? Porque na maioria das vezes, as perguntas foram genéricas, soltas – sem conexão entre uma e outra – já conhecidas, e que deram à coisa ruim mais chances de se confirmar, respondendo as perguntas com fatos que também não foram levados à discussão. Fatos, os quais os entrevistadores não tiveram como revidá-lo e ficaram sendo para o grande público como verdadeiros. Não estavam preparados? Pareceu-me que não – um despreparo que beirou mesmo a falta de competência ao não poderem argumentar suas perguntas, comprová-las com pesquisas, fatos, vídeos, estatísticas, e tantos outros recursos capazes de se impor ao entrevistado, no caso, a coisa ruim: que parecia – percebi – longe de estar à vontade quando entrou no programa, mas bem, nervoso, mostrando seu típico olhar frio ao sentir-se ameaçado. O Jornal Nacional – com apenas 27 minutos de entrevista – não tocou no aspecto vulnerável da coisa ruim que é seu caráter explosivo, agressivo e seu potencial violento comprovado em vídeos ao alcance de todos; em vez de dar exclusividade ao tema homofobia – que só o levou a repetir suas idéias autoritárias sobre educação – por que não relacionaram o tema com o caráter racista, machista e preconceituoso dele, como no caso da deputada Maria do Rosário no salão verde? Por que não mostraram também o vídeo da discussão com uma jovem repórter – talvez ela no início de sua carreira – que mostrando coragem, o enfrentou, mesmo recebendo esta baixaria:

Ele: Você é bonita, você é bonita.
Ela: (…)
Ele: Você é uma idiota, você é uma idiota.
Você é uma ignorante, você é uma ignorante.
Tô cagando pra você, tô cagando pra você.
Tô me linchando pra você.
Não tá me respeitando?
Ora, vai embora daqui vai, tá atrapalhando teus colegas daqui.

A coisa ruim também mostrou claramente seus traços narcisistas, tomando partido deles para salvar-se de perguntas incômodas; pondo-se na primeira pessoa, na frente de todos como o melhor, embora o que tenha dito nem sempre procedesse a verdade. O pior é que a coisa ruim foi ouvida como se o que disse fosse absolutamente verdade, sem ter ninguém que o revidasse, o negasse com propriedade, e assim passou-se a pergunta seguinte. Li em blogs acusações aos jornalistas do Roda Viva de petistas – como se ser partidário do PT é motivo de acusação – ou que eles tentam ser melhores do que o próprio entrevistado. Não. Ao que assisti foi o oposto destas declarações – não vi intuitos partidaristas, mas bem vi – com poucas exceções – entrevistadores perdidos, limitados por não terem sabido sem embaraço se sobressair com argumentos eficazes. É quando me dei conta do quanto se precisa aprender no Brasil – o que não é mau – ou ainda é o jeitinho brasileiro que deixa passar coisas para não complicar? Não incluo aqui os fazedores do fake news e seus interesses em falsificar a realidade – estes eu os abomino – mas sim o jornalismo crítico, inteligente, ativo e conhecedor dos fatos. O futuro do jornalismo brasileiro depende da educação política que os jovens irão receber – e que não seja a tal que a coisa ruim tem na cabeça – mas uma que tanto fomente a confiança para tomadas de iniciativa própria – sem precisar copiar aos demais – como que ensine a formalizar para também estimular a confiança – a informalidade brasileira com o seu jeitinho brasileiro, em muitas situações, já se deu muito o que falar no estrangeiro: é muito engraçada, viva, espontânea, tudo bem, mas também chata, pesada e não digna de confiança dos demais; ela está presente por toda parte e certos políticos abrem mão dela até em Brasília. Numa das vezes que estive no Brasil assisti a uma sessão da Câmara na televisão; na ocasião presidia a mesa o deputado Rodrigo Maia que ao terminar seus trabalhos, levantou-se de sua poltrona e bateu no ombro do seu auxiliar para ir embora, só que de uma forma tão sem cerimônia, tão à vontade e descuidada, como se bate no ombro de um companheiro de bar – onde neste recinto seria normal – mas não na Câmara dos Deputados. Para mim este gesto mostrou uma indiferença e desrespeito tanto a seu trabalho como ao lugar onde se encontrava; se o deputado agiu assim, por que outros não?

A coisa ruim foi mais além da informalidade; no fundo não o considero informal, pelo contrário, ele é autoritário e intransigente – qualidades que negam a informalidade – é um grosseiro, um desbocado, um agressivo que sabe atacar. A deputada Maria do Rosário – talvez ainda esperando condescendência dele – o ameaçou de esbofeteá-lo. A reação dele foi a evidência de não saber usar da diplomacia em casos de discussão – a qual é imprescindível para um político, sobretudo se ele está em público – e, dono de si, a empurrou duas vezes, mostrando até onde podiam chegar, impunemente, suas atitudes. Foi o apogeu da falta de respeito às mulheres, às famílias, à luta das mulheres. Por que a deputada não o esbofeteou mesmo, em vez de só tê-lo intimidado? Medo? Se assim tivesse passado, a situação teria sido bem diferente, e aí eu estaria pronta para perguntar à senhora Michele Bolsonaro se ela também já viveu semelhante situação em casa.

Próximo post: 17/10/2018