FICA TUDO POR ISSO MESMO?

 

Desde que o site Intercept-Brasil vem revelando e publicando regularmente provas de ilegais procedimentos da força tarefa Lava Jato – as quais a incriminam de ter usado sua função e fachada de anti-corrupção para poder operar ilicitamente, tendo em vista interesses políticos de alas de extrema direita – que a culpa histórica atribuída ao Partido dos Trabalhadores-PT por atos de corrupção, incluindo a culpa máxima ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, está em questão. É a hora de anti-petistas menos exacerbados darem o braço a torcer e admitirem o óbvio, o qual o ex-presidente Lula foi usado na operação Lava Jato para fins políticos, que a sua prisão foi para impedi-lo a se candidatar e vencer – com certeza – as eleições para presidente da república de 2018; e cabe agora ao povo brasileiro reconhecer essas provas como dados essenciais da inocência do ex-presidente exigindo a anulação do processo para que ele readquira seus direitos políticos perdidos – é que tudo isso não pode ficar assim por isso mesmo.

Tirando dos eleitores do presidente Jair Bolsonaro aqueles impregnados de ódio contra avanços sociais e valores democráticos, já há quem reflita, incitado pelo mau desempenho do governo dentro e fora do país. A vergonha que passa o Brasil no exterior é estrondosa, além das ofensas dirigidas desrespeitando pessoas públicas; assistimos ao despreparo intelectual de ministros, suas idiotices e frases sem nexo já estampadas pela imprensa internacional. O mundo está de olho no Brasil também pela eclosão dos incêndios na floresta Amazônica, e Jair Bolsonaro crê que pode iludir o mundo como se o mundo pensasse como uma das grandes partes dos brasileiros. Ou ele acredita que Donald Trump vai apoiá-lo sempre. – Na política pode passar muitas coisas, até Trump não ser reeleito nas próximas urnas. Mesmo assim isto não seria o fim do bolsonarismo.

Contudo o PT ainda é alvo de acusações – a começar pelo próprio presidente da república – como uma palavra de ordem que toma o todo pela parte – uma metonímia clássica – qualificando tudo e todos de corruptos: a ideologia, programas e todos os membros do partido. Agora está claro que o PT, mesmo tendo sua parcela de responsabilidade pela situação política desastrosa a que o Brasil chegou, não é ele o único responsável por ela. Os anti-esquerdistas radicais não querem admitir isso, e não se rebelam contra a política econômica do presidente atual, seus disparates verbais e nem o uso do nepotismo e da violência policial nas ruas. A antropóloga Isabela Kalil numa entrevista à TVT disse que uns 30% da população brasileira apoia a visão e postura de Bolsonaro sem detrimento de certas mudanças prometidas por ele; a isso se junta uma ética religiosa baseada em pólos de deus e demônio, do bem e do mal. Para ela esta visão maniqueísta vai se alargando a tudo que possa ser um perigo para a família de bem, para o bom cidadão, a educação dos filhos e a segurança pública. É quando a violência é justificada para defender o bem. Kalil entrevistou mães, que sem interesses partidários, preferiram votar no Bolsonaro só pelo seu programa de educação escolar – elas tinham medo de uma orientação educacional dita de esquerda, a qual iria desvirtuar o desenvolvimento „normal“ dos seus filhos. Uma preocupação limitada ao patriarcalismo conservador e fundador de uma sociedade estabelecida em estruturas rígidas. Para elas ir contra isso é corromper, disse Isabela Kalil.

Eu, quando contemplo o Brasil desde longe, da segura Europa, fico estupefata. A estupefação também ora é a reação de pessoas; elas já não mais me admiram por eu ser do país do calor, do carnaval e da alegria – o calor pegou fogo na floresta Amazônica, a alegria se perdeu na insatisfação e insegurança do povo, e o carnaval é cantado de verde e amarelo ao som do hino nacional com suas „margens flácidas.“ Pelo contrário elas me perguntam por que não se faz nada no Brasil, ou onde está a oposição. Conversando com uma amiga – que vem se interessando pelo Brasil desde que viu nos noticiários a floresta Amazônica incendiada – ela não pode crer que tudo fique por isso mesmo, que ao invés de se mostrar a verdade dos fatos, não se falou mais sobre eles. Minha amiga é partidária de algo como um conselho internacional de vigilância e proteção à floresta Amazônica, caso o povo brasileiro não tenha suporte para prezá-la e protegê-la. Esta forma de pensar já pode ser um consenso internacional – é o medo de que o pulmão da terra seja destruído por interesses sem escrúpulos. A questão da soberania brasileira, neste caso, tem menos peso, uma vez que a floresta – em face ao aumento das lutas pelo meio ambiente – é vista como um patrimônio da humanidade. Já Lula, quando foi entrevistado pelo jornal francês Le Monde, disse discordar do presidente francês Emmanuel Macron quanto à internacionalização da floresta, frisando que ela faz parte do patrimônio brasileiro. No fundo ele quer que os brasileiros se conscientizem do dever que têm de cuidar do seu meio ambiente. Ele tem razão.

Por ora o Brasil continua em ebulição: Jair Bolsonaro, como se diz na Alemanha, está como uma galinha cega. O fato de querer livrar um de seus filhos que está metido em corrupção junto com o seu assessor, o faz correr de um lado pra outro, despedindo gente aqui, colocando outros ali, brincando com o poder. E o PT se enfrenta mais uma vez a um grande desafio político depois de sua queda do auge do poder – é preciso ter paciência, saber estar sincronizado e efetuar articulações necessárias. Políticos astutos já se movimentam prevendo uma possível sucessão de Bolsonaro nas próximas eleições, mas antes disso, o povo brasileiro precisa fazer sua tarefa de casa: Lula tem de sair da prisão inocentado das falsas acusações que lhe fizeram. Lula Livre.

 

Próximo post: 7/10/2019