Defeitos: como é difícil aceitá-los!

Aprender a aceitar os nossos defeitos não é tarefa fácil e requer exercício árduo e constante, por isso é mais fácil e mais frequente  permanecer com uma atitude crítica e negativa frente a eles, julgando-nos como incapazes e imperfeitas, em vez de  aceitar-nos assim como somos.
Nós mulheres somos vítimas fáceis, tanto da imposição da publicidade exibindo padrões de beleza e de moda, quanto das projeções masculinas de modelos ideais femininos. De uma forma ou de outra um defeito é tido até como um corpo estranho, que não nos pertence, geralmente quando se refere a um aspecto físico, alguma coisa no corpo indesejada. Seríamos mais felizes e teríamos mais êxitos na vida se fôssemos mais altas ou mais baixas? Mais magras ou mais musculosas? Com um busto maior ou menor?  Assim uma parte do corpo não querida é considerada como defeituosa porque não está de acordo com os padrões vigentes do tipo ideal a condizer, que para serem cumpridos, recorre-se a uma avalancha de intervenções, desde aos programas de como livrar-se das “imperfeições” até às cirurgias plásticas. Aqui não me refiro aos casos de cirurgias plásticas que são para o bem da saúde e melhor que não sejam evitadas, quando por exemplo, a diminuição do busto é para o bem-estar da coluna vertebral ou quando uma plástica intervém para restaurar o que foi danificado por acidente ou enfermidade. Refiro-me ao que se considera como defeito e que, no fundo, é até  uma característica pessoal: o nariz é grande demais, os lábios bem que podiam ser mais volumosos e…  a lista de “defeitos” vai aumentando e eles são tidos como a causa de nossos insucessos na vida.
Psicólogos já falam que aceitar o nosso corpo é afirmar uma verdade absoluta, a qual diz que ele é o guardador de nossa identidade – com ele nascemos e entramos para este mundo e com ele também morreremos e deixaremos este mundo – ele nos pertence e, se o amamos ou não, ele estará sempre conosco, sem que possamos trocá-lo por outro.
Um dia enquanto esperava o metrô, ouvi sem querer duas mocinhas conversando: uma estava sendo amavelmente elogiada (pelo nariz que tinha) e por mais agradecida que se mostrasse ao elogio da outra, não podia evitar de demonstrar seu descontentamento com o seu lindo nariz e quanto mais o grau de elogios da outra aumentava, mais ela se derramava de dor por esse nariz tão feio, até chegando ao ponto de confessar que já tinha consultado um especialista que, confirmando sua crença, a aconselhou a fazer uma cirurgia plástica. Ao pronunciar meramente “cirurgia plástica” seu semblante mudou, passando para uma expressão de esperança e vitoria. Vitória contra o que ela tanto enjeitava e que no fundo era ela mesma. Para mim este é um caso absoluto de extrema rejeição, até mesmo de repúdio a si mesma. Aceitar os nossos defeitos ou o que se considera como defeitos, porque muitas vezes não são, é tarefa primordial para estar em paz consigo mesma. Segundo Colette Dowling no seu livro “Perfect Women”,  nós mulheres estamos sempre em estado de guerra contra nós mesmas; essa tendência a não nos deixar em paz e a estar sempre à caça de imperfeições que nos leva continuamente a  examinar-nos  em frente do espelho, a viver fazendo regimes para emagrecer, a mudar várias vezes a cor do cabelo, enfim estamos sempre preocupadas como nos mostramos aos outros e que efeito a nossa aparência surtirá publicamente em vez de promover uma relação de paz e amor com o corpo através de respeito, cuidado, aceitação e prazer, pois desta positiva e consciente relação com o nosso corpo é que tiramos as fórmulas de como nos relacionamos com outras pessoas.
Vejo como um passo muito importante que hoje nós mulheres já nos aceitamos muito mais em comparação com os séculos passados de forte dominação masculina. É aqui neste ponto de busca de harmonia e auto-aceitação com o corpo onde ponho minhas expectativas e esperanças como mulher em favor de nosso poder de auto-determinação.