Que “coisa” é essa, Clarice?

Meu erro é o meu espelho, onde vejo o que em silêncio eu fiz de um homem. Meu erro é o modo como vi a vida se abrir na sua carne e me espantei, e vi a matéria de vida, placenta e sangue, a lama viva.
Clarice Lispector

 

 
Que coisa é essa que se interpõe entre os fatos e a justiça? Que coisa é essa que põe a justiça em questão?

Os tiros disparados matando José Miranda Rosa, conhecido por Mineirinho, um bandido e criminoso procurado pela polícia, encheram Clarice Lispector de dor e revolta e levaram-na a viver uma experiência humana profunda, a qual ela expressa de maneira densa e magistral no conto „Mineirinho“ e ao mesmo tempo surpreendente pela sua forma, parecendo mais um plaidoyer – acho eu – do que um conto ou uma crônica, embora seus argumentos não o teriam nem salvo da prisão nem da morte. Mineirinho foi morto em 1962 no Rio de Janeiro por uma série de tiros; um total de treze balas perfuraram seu corpo indefeso. Clarice Lispector disse numa entrevista em 1977 para a TV Cultura, sua última entrevista, que só uma bala teria bastado para matá-lo, os treze tiros foram “vontade de matar” – foram perversão bárbara digo eu: uma desnecessária execução que fez de Mineirinho um bandido a menos, como um resultado de glória para os tais atiradores e para aqueles que acreditaram neles como defensores de sua segurança. Ou como se diz hoje “bandido bom é bandido preso”, ou em últimas instâncias pode-se corrigir a sentença para: “bandido bom é bandido morto”, quando nisto uma justiça chega a seu ápice ao não dar ao criminoso exatamente o que ele tirou de outro ou outros: o direito de viver. Mas que justiça é essa que devolve na mesma moeda? Seja qual for a sua atuação, na área do judicial ou não, é motivo para Clarice Lispector indignada dirigir-se a ela, repudiá-la pelo alto preço que cobra por um bem-estar e segurança de se poder estar em casa e dormir em paz – nosso conforto é pago por outros que pagam com a vida – e Mineirinho foi fuzilado enquanto ela dormia – e enquanto dormimos outros vão continuar pagando com a vida em nome de uma justiça que diz nos amparar enquanto outros ficam desamparados. Para Clarice somos todos uns „sonsos“; pois deixamos escapar, por essa sonsice, a nossa responsabilidade frente ao outro, e isto é o que sustenta o nosso comodismo diário.

Apesar de o sentido de justiça ser primordial e estar presente no texto de várias formas, não foi, porém, o que mais me tocou no seu texto; Clarice era formada em leis e sabia muito bem o que o termo „justiça“ podia significar em meio a tantas apelações; ela também estava longe de querer justificar gratuitamente os crimes de Mineirinho; mas bem uma outra coisa, „uma coisa“ que a faz se acercar do caso através de sua voz interior, e não por uma ostentação teórica; bem melhor deixar vir à tona aquilo ou aquela „coisa“ que a justiça não cumpre, ainda que seja ela o princípio dos direitos. Mas como expressar essa coisa, a coisa que faz doer a morte de um facínora?
Clarice assiste ao drama de sua cozinheira por não saber exprimir seus sentimentos de pena, por também estar dividida entre a sua compaixão e os fatos reais: quem não sabe que Mineirinho era criminoso?, mas por outro lado: … tenho certeza de que ele se salvou e já entrou no céu. A escritora procura em si mesma – sem se individualizar, mas como um dos representantes do nós – que coisa é essa que rebentada não a permite sentir-se aliviada pelo fim de mais um bandido? Se Mineirinho tivesse sido morto com apenas um ou dois tiros, estes não teriam sido suficientes para que nela a coisa se rebentasse: Mas há alguma coisa, que me faz ouvir o primeiro e o segundo tiro com um alívio de segurança, … – entretanto esse desumano excesso de tiros a tira do comodismo – como, meu Deus, precisamos de tragédias, catástrofes para acordar para a realidade! – e levam-na à continuação a despertar-lhe para algo, ressoam em sua memória com insistência, como se eles fossem as treze estações de uma via crúcis, a sua e a de Mineirinho – a via crúcis de Cristo tem uma estação a mais – e ela passa dolorosamente a ser o outro, pois só nessa transformação é possível a compaixão.

“Não matarás”, um dos dez mandamentos de Deus entregues a Moisés e é o que serve para assegurar nossa existência como viventes, porque só Deus tem o direito de tirar nossa vida; aqui rege a lei do olho por olho até que muito mais tarde o Messias resumiu as duas tábuas dos mandamentos em dois grandes ensinamentos, que não foram dele próprio porque já estavam presentes no antigo testamento: um tem que ver com o amor a Deus, de maneira exclusiva e absoluta, e o outro com o amor ao próximo. O revolucionário deste segundo ensinamento é que não é amar o próximo como ele é, mas sim amá-lo como se ama a si mesmo, pois não há diferenças entre amar o outro e amar-se. Vejo um ponto de partida aí no humilde reconhecimento de si mesmo que gera um amor irrestrito e sem barreiras; desta forma posso amar o outro, e entre mim e ele o amor é o mesmo, porque – sob o poder do amor – eu sou o outro e ele é eu, ou seja, amo o outro porque reconheço nele o que sou. Isto longe de nos relegar à passividade, nos levaria a ser ativos – sujeito e discurso – um movimento para a frente, para a união. Este amor incondicional ao próximo nos é exigido pelo cristianismo, mas é-nos, por outro lado, possível? No texto vejo-o referido como um dos lados da tal „coisa“ já mencionada. Há uma coisa, existe uma coisa pura em nós que nos une, que nos faz humanos, mas por ser tão intensa também é capaz de assumir o contrário do que é; essa coisa que ao mesmo tempo que minúscula como um grão de areia fina, também pode ser tão forte e destrutiva como a irradiação do radium: … essa coisa é um grão de vida que se for pisado se transforma em algo ameaçador – em amor pisado. Em Mineirinho essa „coisa“ – que por um lado – o fez gostar „feito doido“ de uma mulher e ser devoto de São Jorge também é a mesma coisa que – por outro lado – o desorientou e caotizou sua vida. Pergunto-me que área do conhecimento se prestaria a definir essa coisa. Clarice Lispector não encontra resposta nem na justiça baseada na idéia universal do direito natural, a qual nos dá o que é fundamental para existir: a vida – como se diz: „o sol é para todos“ e não só para alguns, e que é no fundo o princípio de todas as revoluções – esta aqui não chegou a alcançar Mineirinho permitindo-lhe que o sol também brilhasse para ele – nem na justiça dos homens como procedimento arbitrário do que é justo e correto: esta a envergonha porque dá-se conta de sua fachada: sua casa segura, que protege seu sono tranquilo, não é tão segura assim se ela começa a ter acesso à coisa, a aquilo que lhe tira a máscara da sonsice de toda uma vida e cobra-lhe amor ao outro enquanto indignada. Usando de lucidez, Clarice recorre ao divino sem pieguices, não importando se de forma irônica ou não, mas confiando que daí se possa tirar a bondade e a esperança; assim repete a palavra „Deus“ por quatro vezes no texto, como também se vale de passagens da Bíblia, não para rogar piedade por Mineirinho, pedindo a inocência e o perdão para ele – o que seria por demais abstrato, sabia ela – bem mais para pô-lo no lugar dos homens, de todos os homens, que também somos nós, porque nós todos somos perigosos se nos faltou a mão de um pai sobre nossa cabeça a nos amparar. Estes são momentos lindos do texto, vivos e fortes, nos quais a escritora expressa suas convicções sem deixar de se referir à tal coisa – ela quer essa coisa que move montanhas ou „a coisa“ que a faz dar água a quem tem sede, não porque ela tenha água, mas porque, também ela sabe o que é sede.

Quando eu tinha entre catorze e quinze anos vi uma cena que me repugnou; foi numa das paradas de um transporte coletivo rumo ao centro da cidade. Numa esquina estava um rapaz com o seu carrinho de sorvetes, e ao redor dele um grupo de rapazes, que pela sua aparência pertenciam a uma classe social bem mais superior. Sem levar em consideração que o sorveteiro trabalhava pela sua subsistência – e talvez até de uma família – e sem nenhum respeito humano a ele, os rapazes tentavam provocar a ira do jovem para humilhá-lo na sua condição de pobre e indefeso. Da janela do ônibus fui atraída pelo seu sofrimento existencial, sozinho e desamparado sem poder se valer do que ele tinha de mais valoroso: sua dignidade humana, sua nobreza de ser homem trabalhador mesmo não possuindo um título honrado; vi no seu rosto a dor de quem já era um perdedor oprimido, recuando como única defesa, pois no momento uma valentia isolada não significava nada. O ônibus seguiu adiante sem que eu pudesse ter visto como terminou esse episódio vergonhoso; sua humilhação deve ter se transformado em ódio, e a vergonha por não ter podido ele mesmo se socorrer, deve tê-lo impedido por muito tempo de usar de sua racionalidade. Não ouvi no ônibus nenhum comentário – é muito provável que outras pessoas também tenham visto o que acontecia na esquina, apesar de tudo isso ter passado depressa, só o tempo de uma parada sem demora, mas o suficiente para paralisar-me pelo terror. Eu era muito jovem, uma adolescente desprevenida para essa realidade e, como a cozinheira de Clarice, não sabia me expressar e acabei reagindo como todos: deixando passar para evitar a dor que dela faria do sorveteiro um de nós, porque no fundo seria essa dor o que poderia nos unir. Esta lembrança agora emergida é a dita prova de como fomos todos sonsos – eu e os outros dentro do ônibus – o medo e a indiferença nos impediram de usar uma justiça – fosse ela qual fosse – em favor de um homem acuado e ultrajado por outros; preferimos não ver para continuarmos comodamente nossa viagem – a cegueira foi o preço que pagamos, evitando que o ônibus estremecesse se a tal coisa rompesse pelo menos em nome do que se chama coragem civil.

Como deixar viver essa coisa? Clarice acha que só a doidice – perder-se – seria um meio de chegar a ela: uma justiça mais doida, um amor doido, uma compreensão doida do que é perigoso compreender, e só sendo doido pode-se sentir um amor profundo – aquele que explodiria seus raios em „ isso ou aquilo“, ou seja, na esperança, na confiança, no amor, ou naquilo que seria o contrário levando à desorientação e a destruição. Pergunto-me por que ela não usa palavras como louco, louca, loucura para referir-se ao acesso à „coisa“ ou ao estado da „coisa“ – acho que seriam estas bem mais formais; também não recorre a explicações científicas porque, para ela, não há explicação científica para a tal coisa. Clarice Lispector vale-se de Clarice mesma para expressar seu olhar profundo e sua compreensão aguda dirigida às coisas e a nós; com isso ela nos mostra nosso próprio desespero humano, – nós pobres humanos – nos põe na fronteira de nossa capacidade de compreensão, nos deixa desamparados frente a termos tão comuns, mas também abstratos como „erro“ e „salvação“, mas que em suas frases assumem estes um caráter ambíguo, porque um pode ocupar o lugar do outro: o erro é o seu – o nosso – modo de viver, mas ao mesmo tempo a sua – a nossa – salvação; o bandido Mineirinho é resultado do seu erro, mas também é o que vale para a sua salvação; seu erro é assustar-se diante da vida em forma de carne, sangue, lama, assim como sua salvação é calar esse erro, não compreendê-lo, afugentá-lo. A necessidade de abstrair coisas ocultas dos fatos – que só um coração compassivo pode ver – vem de sua inquietação, de suas longas elucubrações, tentando criar com esforço, não o que é óbvio, mas numa profunda solidão, a unidade entre o ser e o pensar. Aonde quis chegar? Ao místico? De sua solidão – acho eu – veio a necessidade e o intento de viver o outro, pois todos nós somos da mesma matéria e da mesma lama, mas por outro lado por que somos um ao outro tão aversos? O que nos salvaria?

Como responder perguntas tão inquietantes? Como dividi-las com alguém, senão no ato de escrever? Para leitores despreparados, Clarice Lispector não oferece textos fáceis de tragar, agradáveis de ler, por sentirem-se eles perdidos até mesmo em meio a um relato de fatos cotidianos, pois estes podem inesperadamente desorientá-los. É o contato com a coisa? Talvez. Disse na sua última entrevista que ela não se considerava popular e até era vista como hermética; por estas dificuldades a sua obra literária está, na maioria das vezes, entregue aos doutores e professores de literatura, o que pode tornar sua leitura um tanto elitista – infelizmente. Não acho que ela tenha escrito seus livros visando este fim – ela escreveu por necessidade, o seu modo de ser se espelha de forma sincera na sua expressão – e a maior ou menor, ou mesmo nenhuma aproximação do leitor com seus textos é independente do nível intelectual: ou se entra em contato com ela ou não.

As categorias de bem e de mal se contrapõem marcadamente em casos como o de Mineirinho; é muito fácil julgá-lo só levando em conta o seu lado escuro, demoníaco e assim não lhe conceder nem defesa, nem perdão, por isso é incabível, lato sensu, aceitar argumentos tais como – Meu erro é o meu espelho, onde vejo o que em silêncio eu fiz de um homem. Ou: Tudo o que nele foi violência é em nós furtivo, e um evita o olhar do outro para não corrermos o risco de nos entendermos. Para que a casa não estremeça. Ou ainda: Até que viesse uma justiça um pouco mais doida. Uma que levasse em conta que todos temos que falar por um homem que se desesperou porque neste a fala humana já falhou … – sem beirar a culpa, o exagero e até mesmo o utópico. Contudo Clarice Lispector chegou aí – à doidice? À utopia? Ao ilimitado? Ao limiar do impossível dentro do possível? Como entendê-la? Ela disse que quem entende desorganiza e é o mesmo que querer entender a coisa que nos faz com que nos ofusquemos e nos calemos tanto frente a um brilhante, como frente ao horror, pois essa mesma coisa que nos enche de amor, também nos desespera e faz nossa casa estremecer, mas é bom lembrar que embaixo da casa está o terreno, o chão onde nova casa poderia ser erguida. Então seria possível sim.

A susceptibilidade de “Escreva Lola Escreva”

Este post é um comentário ao que captei como interessante para mim do blogspot escrevalolaescreva. Claro que este blog abrange mais temas que o referido aqui.
Não me prendi à variedade de interesses da autora, como política, cinema, viagens,
etc., nem a sua pessoa; tentei apenas ressaltar o papel feminista do seu blog dentro
do contexto brasileiro.
(As datas entre parênteses correspondem aos posts de onde os trechos citados foram retirados)
Nada mais comum do que duas amigas irem a uma festa para se divertirem, mesmo sendo uma delas uma escritora bastante tarimbada e diversificada em temas como meio ambiente, direitos humanos e feminismo – é que intelectuais também se divertem! –  No fim da festa quando as duas já queriam ir embora, interpôs-se entre elas o anfitrião apelando para que ficassem mais um pouco, pois ele ainda não tinha tido a oportunidade de conversar com elas, e dirigindo-se a nossa escritora em questão num tom desdenhoso, começou a falar de um livro muito bom e  recentemente publicado sobre o fotógrafo inglês já há muito tempo falecido Eadweard Muybridge.  Seu tom também arrogante acentuava uma presunção como se ele estivesse falando com “uma menina de sete anos na sua primeira aula de flauta”. No entanto não sabia o tal que ela era a autora do livro, o qual ele tentava explicar-lhe, e por mais que a sua amiga se esforçasse em dizer-lhe que ele estava falando com a própria escritora, ele não a escutava. Por fim se deu conta de sua desvantagem diante dela, até então julgada apenas como uma party girl, e claro, de nível intelectual inferior a ele, calou-se. Que cena grotesca! Esta experiência, nunca esquecida, levou-a anos mais tarde a escrever um ensaio, que se tornou famosíssimo, sob o título “Men Explain Things To Me”: Quando homens me esclarecem o mundo (a tradução é minha), primeiramente publicado numa plataforma dedicada a artigos de opinião crítica.

A autora a quem acabei de me referir é Rebecca Solnit, americana, nascida em 1961 na Califórnia . Seu texto, acima citado, foi como uma ferida aberta e ocasionou o aparecimento da expressão Mansplaining, até já usada por Hillary Clinton  – que em inglês é uma aglutinação do verbo explain (esclarecer) e man (homem), significando que o homem é quem melhor sabe das coisas e por isso tem a tutela do conhecimento – como também iniciou discussões quanto a quem pertence o saber, o conhecimento e o esclarecimento do mundo. Só aos homens? A partir daí as reações foram inúmeras, apareceram artigos de mulheres que passaram por experiências parecidas, como também cartas de homens que tentaram corrigi-la ou restringir o seu ensaio a uma experiência individual: “ Tem mais que ver com você que se deixa depreciar”…  Mas por outro lado, o que tudo isso tem que ver com o blog Escreva Lola Escreva? Muito.

Tanto Rebecca Solnit como Lola Aronovich, cada uma a sua maneira e vivendo em sociedades bem distintas usam seus meios de expressão para tocar bem no fundo uma ideologia já há muito tempo cristalizada como o machismo, e assim conseguem causar repercussão social atraindo, sobretudo, mulheres para um mesmo foco de interesse e abrindo discussões necessárias. E ainda mais: as duas conhecem as consequências do que
é mostrar claramente comportamentos masculinos autoritários frente às mulheres porque homens se dão conta dessas investidas, nomeadamente aqueles que se identificam com
elas e fazem de sua participação nas redes sociais um meio de deslegitimá-las.

No contexto de Solnit as reações masculinas marcaram não somente intenções de elucidá-la sobre o que ela “provavelmente” não conhece – acreditam eles – mas também dirigi-la em sua forma de comportar-se – no fundo eles queriam ensiná-la a ver o mundo segundo seus olhos.

Quanto a Aronovich, infelizmente uma parte das reações ao seu blog é de nível nitidamente inferior; as críticas a ela são agressivas e de forma a degradá-la moralmente, puni-la e até ameaçá-la de morte, como mesma constatei. É a expressão desesperada de homens “reaças”, “mascus” e “misóginos”; é o terror que ora se alastra por meio da internet. Como ela mesma escreveu: …” eu não sou ameaçada por ser Lola ou por meus lindos olhos verdes. Sou ameaçada por ter um blog feminista.” (30-12-14)

Cheguei casualmente ao “Escreva Lola Escreva” no ano passado quando estava à cata de blogs de opinião feminista para melhor conhecer o campo de ação onde eu estava prestes a entrar com o meu blog pessoal. O primeiro que vi foi uma fotografia de cores pardas de uma menina sorrindo – a própria Lola, pensei – enquanto tem cada uma das mãos ao lado da boca, num gesto de querer anunciar algo. De imediato pareceu-me acertada a escolha da fotografia com relação ao nome do blog, levando em conta seu próprio processo de amadurecimento: a infância, a fase onde a expressão é sobretudo oral até a idade adulta, caracterizada pela prioridade da expressão escrita. E assim estava justificado o nome do blog para mim. Gostei. Mas mesmo assim confesso que me choquei um pouco mais adiante com a crueza das palavras e de algumas fotos; as acusações diretas aos “reaças” e “mascus” que “não sabem nada de nada”; um vocabulário especial dirigido aos “caras” e uma série de comentários como água fervente, porque neles, como canais abertos, vê-se claramente os ataques “deles” ao conteúdo dos posts. Senti que o ambiente era quente em comparação com outros blogues feministas que também comecei a observar, e não demorou muito para que eu me acostumasse com a sua linguagem: “Eu sou mulher, sou feminista, tenho peito, não tenho medo. Pra mim “aquilo roxo”, balls, cojones, nunca foram sinônimo de coragem. Coragem é enfrentar todo um sistema que insiste em perpetuar preconceitos.” (2-6-11) e começasse a captar a importância dele atualmente no contexto social brasileiro: não vivia só de acusações ao machismo, mas também era um espaço aberto capaz de impulsionar um movimento já vigente no Brasil e de servir de voz – aquela voz penetrante que não tem medo das palavras, repetindo sem dó termos como “cultura de estupro”, “aborto legalizado”, “homofobia”, “ódio destilado” –  que incomoda, e sem usar frases complicadas, mas chegando a um nível ao qual os “sujeitos”, contras radicais entendam: “… mas é o que sempre digo: se rola resolvesse algum problema, homens reaças não seriam o fracasso ambulante que são.”(23-11-17)  Lola Aronovich não apela para a diplomacia, ela sabe muito bem que no estado das coisas é preciso combater com as mesmas armas ou retirar-se; mas ela não se retira, ou melhor, nenhuma se retira, e em vez disso Lola escreve como numa campanha elucidativa para mostrar que mulheres no Brasil são humilhadas, insultadas, espancadas, estupradas, mortas. Por homens. Nessa luta quem é mais inteligente e quem melhor argumenta sobre o que é verdade, ganha. Quem só exerce violência não vence, mas quer eliminar o outro em vez de deixá-lo viver. Lola sabe que com outro tipo de linguagem não teria o seu blog uma grande ressonância e até também por parte dos “reaças”: “Sou a única feminista que reaças conhecem em seu mundo falocêntrico.” (23-1-17)

É nesse espaço aberto que muitas mulheres podem declarar suas queixas, fazer confissões de fatos horrendos passados em suas vidas e ver que outras mulheres também passaram por situações semelhantes; é que muitas das quais, certamente, nunca tiveram a oportunidade ou a coragem de expressar-se de forma pública. O blog da Lola oferece esta oportunidade e mais, serve até de conselheiro, sendo necessário, a aquelas que necessitam ser ouvidas e receber apoio moral. É quando Escreva Lola Escreva cumpre sua função de utilidade pública (também reconhecida num dos comentários), antes realizada pelos velhos consultórios sentimentais de revistas exclusivamente femininas – mas não feministas – alentando para uma nova consciência e mostrando novas direções: “Nós estamos fazendo a nossa parte para mudar o mundo e não vamos parar. E você, R., faz parte desse nós.” (21-9-16)

A susceptibilidade desse blog que se confunde com a autora tem que ver mais com os  feedbacks negativos que recebe dos “caras” – às vezes até como perseguições – e isto foi o que me motivou a segui-lo e a perceber que esta tendência, mesmo mostrando-se negativa, tinha dois lados interessantes: sem esta susceptibilidade estaria o blog hoje na posição de ser o mais lido ou um dos mais lidos do Brasil? Através dele podemos ver caras, as dos “caras” e suas intenções – Lola as exibe sem sentir vergonha, pois esta só limitaria seus objetivos feministas. Esta qualidade susceptível, passível de receber ofensas é por outro lado também um meio de como se medir a temperatura do machismo local. Eu que vivo fora do país há muitos anos, foi lendo o blog da Lola que me dei com a cara do macho brasileiro, e fiquei horrorizada com a falta de escrúpulo e principalmente com a baixeza de suas declarações quando referidas a mulheres.

O feminismo em muitos países como o Brasil é o que faz com que mulheres possam se levantar, quando caem por pancadas recebidas e não são devidamente acolhidas por leis. Mulheres que se deixam ser surradas por fraqueza ou por estarem em total dependência de seus vilões, precisam de leis que as protejam e precisam do feminismo como aparato social capaz de esclarecer-lhes as raízes de suas desventuras. Homens precisam aprender que uma mini-saia ou mesmo uma parte do corpo à mostra não é um convite para o ato sexual; a crença de que mulheres podem estar à sua disposição gera equívocos incabíveis: um sorriso pode ser entendido como um consentimento, um silêncio como um sim e o encontrar-se sozinha pode conduzir ao estupro. Como apelar para o bom senso? Como defender-se? A missão do feminismo é encontrar essas respostas e muitas outras urgentes, antes que os ataques e a violência contra mulheres sejam mais rotina do que já é. E…
“Que fique claro. Se você demoniza feministas, se você ataca feministas,
se você chama talvez o maior movimento revolucionário do século XX
de “modinha da internet”, se você faz graça com estupros e violência
doméstica, não tem jeito: você é misógino. E você é acima de tudo
ignorante, porque você também se beneficiaria de viver num mundo
sem violência contra as mulheres.”  (22-2-16)

Sempre Elza

Imóvel como uma rainha no seu trono, as luzes refletiam sobre a sua cabeça majestosa, ” à la Black Power”, dando-lhe cores cintilantes entre o azul e o rosa. Os lábios cobertos por uma cor escura, bem pintados, salientavam uma expressão altiva de “femme fatale”; as mãos e os braços enluvados por um material brilhante – latex? – ela movia com cuidado só a mão que segurava o microfone. Séria, imponente, nos seus quase 80 anos de idade, assim encontrei a Elza Soares no palco, cantando sentada, a voz já gastada, sem os gritos rasgados de antes, quando ela já deixava louco o Brasil com o seu gingado.  Lá no palco a vi como uma soma de presenças fortes:  como uma política, uma dominadora, uma ativista … no entanto era só ela, a Elza sentada e cantando, exuberante, como disse o Lenine.
Este show fora do Brasil levou muitos brasileiros, como eu fora do país, a querer reviver o que faz parte do nosso patrimônio cultural – a música, a nossa MPB, o samba – e Elza Soares é uma divulgadora deste patrimônio, mas não só isto, ela é a voz negra, gritante e acusadora, que não deixa escapar a verdade – uma verdade cruel, mas que também encoraja o público a cantar repetidas vezes até que o refrão fique na memória de cada um como emblema de uma denúncia:Elza Soares,jpg.jpg
“ A carne mais barata do mercado é a carne negra / A minha carne é negra.”
Senti-me orgulhosa por estar no seu show, vê-la com respeito e admirá-la. Lembrei-me de que a minha mãe não gostava da Elza porque não a considerava uma mulher respeitável pelo fato de ter ido viver com Mané Garrincha – homem casado – e de ter destruído uma família. Eu ainda não tinha dez anos na época, minha mãe estava na faixa dos quarenta e mesmo com todo o seu conservadorismo e noção de pecado, ela não podia criticar o Garrincha por ter saído de casa, mas sim a Elza, como causadora do escândalo. Mulheres como a Elza Soares em experiências similares também sofreram acusações e insultos de forma unilateral, pois as convenções da sociedade por essa altura consistiam em não criticar o homem, não tocá-lo como guardador da tradição; à mulher, porém, não se evitavam as críticas, pois ela era o motivo de ele ter ferido essa tradição, o que no fundo a culpa era dela. Isto explica que a separação entre os papéis na sociedade, onde o lugar do homem visto como provedor era incólume às censuras, tendo a liberdade de poder dar escapadas fora do matrimônio, ficando assim tolerada a infidelidade masculina, mas nunca a da mulher por ser motivo de preconceitos e passá-la imediatamente a receber a insígnia de puta, não só de homens, como também de outras mulheres.
Mulheres contra mulheres quando estas quebravam convenções de uma herança cultural que lhes impunham aceitar, menos os determinados modos de guardar a dignidade, mas muito mais o peso de suportar o destino de ser mulher. Era dramático, mas apesar disso era o modo de minha mãe (a minha mãe aqui é só um exemplo para ilustrar o quadro da época) entender o seu lugar de mulher na sociedade, em vez de conceder apoio moral. Também o senso moral, contudo, que vincula as pessoas às suas causas não era de se esperar de uma sociedade já quase sucumbida no conservadorismo de uma ditadura, como a brasileira nos anos sessenta. Apesar de ter criticado a Elza Soares, acho que bem no fundo, minha mãe sentia-se solidária a ela, por ser mulher e poder compreender seu sofrimento, mas nunca defendê-la, pois isto supunha ter tido coragem de eleger a expressão em vez de calar-se – e isto era perigoso – como também proibido? –  Pois sim, nesta época a maioria das mulheres não pôde chegar a tanto, por não estarem ligadas pela responsabilidade social e os mesmos interesses. O silêncio ainda não tinha sido quebrado dando lugar à expressão e a solidariedade, muito mais, fazendo dessa experiência uma atitude política. Nem por isso culpo a minha mãe por não ter sido mais forte e corajosa, pelo contrário posso compreendê-la e aceitar suas restrições que também  foram as restrições de minha avó, de suas irmãs, de suas primas, de suas conhecidas, etc., etc..
Hoje ainda me pergunto até que ponto isso é coisa do passado? Certamente que sim. Assevero que sim. Levando em conta quando Elza e Garrincha começaram a ter uma relação – melhor do que a expressão “ter um caso” – em 1962, isto já faz 54 anos, ou seja, entre três ou quatro gerações estão formadas de lá para cá. Já superamos os séculos retrógrados de antes, quando o casamento era mais uma necessidade da mulher para não ficar solteira e a de ter um homem que a sustentasse em troca de dar-lhe filhos e conforto familiar. Esta estabilidade material era melhor do que ser vista socialmente como uma pessoa inútil e ser tratada com desdém por ter ficado sem casar. As mães instruíam as filhas para a vida sexual: “feche os olhos e não imponha resistência, com o tempo você se acostumará e não será mais penoso”. Abnegação ou uma chance ao desfrute? No fundo é uma forma de procurar o amor fora da regulamentação familiar pelo matrimônio e homens aproveitaram-se muito bem dessa brecha para o seu próprio bem-estar, passando a viver o amor de duas formas, uma dentro da relação oficial e a outra fora dela. Uma solução prática, mas cheia de hipocrisia e descaro que, infelizmente, ainda funciona.
Garrincha encontrou outra solução e casou-se com a Elza que ainda foi alvo de críticas, mesmo já estando casada com ele. Por que ainda a discriminação? No fundo ele foi o infiel e o que abandonou a família. É que a sociedade daquela época não estava esclarecida o suficiente para saber julgar formas de infidelidade masculina com o aparato da psicologia, como temos hoje, e isto é muito bom.

Auto-ajuda e os livros

Tenho aprendido que quanto mais sou flexível comigo mesma, quando tenho reações indevidas – às vezes sou passiva demais, em outras reajo excessivamente – posso aceitar-me melhor e até manter uma atitude modesta e compenetrada. Nossas reações são como um motor que impulsiona energia, e essa energia, dependendo de sua força, que pode ser fraca ou forte, é a resposta que damos frente às peripécias da vida. No fundo podemos resumir que tudo, ou quase tudo, depende da forma de como reagimos aos problemas; tudo se resume em reações. É daí que vêm os livros de auto-ajuda, mentores exclusivos que nos ensinam o que é a vida e mostram-nos como devemos reagir frente às suas vicissitudes. Como é bom ler um livro assim capaz de nos dar receitas cabíveis e que nos deixa positiva, otimista e que nos faz acreditar ter encontrado soluções ideais para nossos problemas. Segundo seus ensinamentos, a vida parece ser encantadora, leve e fácil de viver. Contudo a vida é mais do isso e, por mais que o livro seja bom e sério, a nossa história particular e única falta no conteúdo dele. Um livro de auto-ajuda que bastante me impressionou foi o de uma mulher norte-americana famosíssima por ter vendido milhares de exemplares e já ter sido traduzida em muitas línguas, entre elas o português. A autora é extraordinária e benevolente, seus ensinamentos provêm de suas vivências, ou seja, sua história real é a base de onde sai seu conhecimento e sendo fiel a ela, como mesma escreve, acho que é séria. No fundo seus princípios podem ser reunidos num só livro – a sua extensa publicação tem que ver mais com as exigências da procura: uma vez que se obtém êxito de vendas, publica-se mais e mais para satisfazer às necessidades do mercado. Li o seu livro principal, fazendo anotações e marcando o que caía bem com as minhas fraquezas; tentei aplicar de cheio as suas instruções aos meus problemas, mas para o meu espanto, não funcionou: não me sentia verdadeira quando tentava me impor seus ensinamentos; parecia mais uma impostora, inimiga de mim mesma sob o esforço de querer me superar. Ao dar-me conta de minha decepção e incapacidade, parei farta, afastei-me da leitura e liberei-me da  pressão de querer repetir em mim o êxito dos outros. Foi o melhor que fiz e deu certo, pois adquiri mais clareza e auto-respeito; reconheci que a minha história não era a da autora e que a minha vida com acertos e desacertos estava nas minhas mãos a partir do momento em que eu mesma decidia como reagir. Resolvi então ser a minha própria autora, dando pequenos passos, mas significativos, concentrando-me mais em mim mesma  e aceitando-me tal e qual. Assim nesse processo de auto-ajuda me deparei com a pergunta capital: o que quero de verdade? Sabemos o que queremos? No fundo acho que sim, o que nos falta é querer acreditar nisso, pois até saber o que não se quer, já é um caminho para saber o que se quer. Mesmo assim para muitas pessoas responder esta pergunta chega a ser quase impossível, sobretudo para aquelas que nunca se perguntaram, apesar de que a vida já as tenha oferecido umas e outras vezes oportunidades convincentes de respondê-la.
Conheço pessoas que leem livros de auto-ajuda; leem e sentem-se bem e fortes os lendo, como se só o fato de lê-los fosse suficiente para resolver seus problemas e até acreditam  tê-los  resolvido, se não de repente não se deparassem com as velhas situações “críticas”. E? Os problemas ainda estão lá, intactos, à flor da pele. É um momento de decepção ao darem-se conta de que os seus problemas são maiores e mais fortes do que os ensinamentos dos livros e que muitas vezes nem cabem neles. Mesmo assim é aconselhável não resignar nem individualizar, pois se todo o esforço empregado não levou a resultados esperados, isto não é  prova de incapacidade, supondo que outras pessoas puderam ter sido ajudadas. É mais inteligente pensar que por mais que um livro de auto-ajuda ofereça soluções aos problemas, estas nunca são as únicas, há outros caminhos a encontrar, como fazendo uma pausa para se distanciar do problema e assim poder vê-lo com mais clareza ou procurando amigos ou mesmo buscando ajuda profissional. Entretanto o estar só comigo mesma e concentrada, procurando meu próprio caminho foi o que me levou a auto-ajudar-me, e … sem livros.

Defeitos: como é difícil aceitá-los!

Aprender a aceitar os nossos defeitos não é tarefa fácil e requer exercício árduo e constante, por isso é mais fácil e mais frequente  permanecer com uma atitude crítica e negativa frente a eles, julgando-nos como incapazes e imperfeitas, em vez de  aceitar-nos assim como somos.
Nós mulheres somos vítimas fáceis, tanto da imposição da publicidade exibindo padrões de beleza e de moda, quanto das projeções masculinas de modelos ideais femininos. De uma forma ou de outra um defeito é tido até como um corpo estranho, que não nos pertence, geralmente quando se refere a um aspecto físico, alguma coisa no corpo indesejada. Seríamos mais felizes e teríamos mais êxitos na vida se fôssemos mais altas ou mais baixas? Mais magras ou mais musculosas? Com um busto maior ou menor?  Assim uma parte do corpo não querida é considerada como defeituosa porque não está de acordo com os padrões vigentes do tipo ideal a condizer, que para serem cumpridos, recorre-se a uma avalancha de intervenções, desde aos programas de como livrar-se das “imperfeições” até às cirurgias plásticas. Aqui não me refiro aos casos de cirurgias plásticas que são para o bem da saúde e melhor que não sejam evitadas, quando por exemplo, a diminuição do busto é para o bem-estar da coluna vertebral ou quando uma plástica intervém para restaurar o que foi danificado por acidente ou enfermidade. Refiro-me ao que se considera como defeito e que, no fundo, é até  uma característica pessoal: o nariz é grande demais, os lábios bem que podiam ser mais volumosos e…  a lista de “defeitos” vai aumentando e eles são tidos como a causa de nossos insucessos na vida.
Psicólogos já falam que aceitar o nosso corpo é afirmar uma verdade absoluta, a qual diz que ele é o guardador de nossa identidade – com ele nascemos e entramos para este mundo e com ele também morreremos e deixaremos este mundo – ele nos pertence e, se o amamos ou não, ele estará sempre conosco, sem que possamos trocá-lo por outro.
Um dia enquanto esperava o metrô, ouvi sem querer duas mocinhas conversando: uma estava sendo amavelmente elogiada (pelo nariz que tinha) e por mais agradecida que se mostrasse ao elogio da outra, não podia evitar de demonstrar seu descontentamento com o seu lindo nariz e quanto mais o grau de elogios da outra aumentava, mais ela se derramava de dor por esse nariz tão feio, até chegando ao ponto de confessar que já tinha consultado um especialista que, confirmando sua crença, a aconselhou a fazer uma cirurgia plástica. Ao pronunciar meramente “cirurgia plástica” seu semblante mudou, passando para uma expressão de esperança e vitoria. Vitória contra o que ela tanto enjeitava e que no fundo era ela mesma. Para mim este é um caso absoluto de extrema rejeição, até mesmo de repúdio a si mesma. Aceitar os nossos defeitos ou o que se considera como defeitos, porque muitas vezes não são, é tarefa primordial para estar em paz consigo mesma. Segundo Colette Dowling no seu livro “Perfect Women”,  nós mulheres estamos sempre em estado de guerra contra nós mesmas; essa tendência a não nos deixar em paz e a estar sempre à caça de imperfeições que nos leva continuamente a  examinar-nos  em frente do espelho, a viver fazendo regimes para emagrecer, a mudar várias vezes a cor do cabelo, enfim estamos sempre preocupadas como nos mostramos aos outros e que efeito a nossa aparência surtirá publicamente em vez de promover uma relação de paz e amor com o corpo através de respeito, cuidado, aceitação e prazer, pois desta positiva e consciente relação com o nosso corpo é que tiramos as fórmulas de como nos relacionamos com outras pessoas.
Vejo como um passo muito importante que hoje nós mulheres já nos aceitamos muito mais em comparação com os séculos passados de forte dominação masculina. É aqui neste ponto de busca de harmonia e auto-aceitação com o corpo onde ponho minhas expectativas e esperanças como mulher em favor de nosso poder de auto-determinação.